domingo, 23 de agosto de 2015
61 anos completou neste domingo 23/08/2015 Getúlio Vargas
Suicida-se um homem, nasce um mito. Descrita pelo próprio Getúlio Vargas, em sua carta-testamento, como a saída da vida e a entrada na História, a morte trágica do presidente — que deu um tiro no peito, há 61 anos completos neste domingo — consolidou o ideário coletivo sobre o gaúcho de São Borja. Em meio a uma crise de instabilidade política agravada pelo atentado da rua Tonelero, Vargas disparou também contra ataques que vinha sofrendo da oposição. E catapultou um fascínio que atraiu milhares de pessoas para o seu velório e faz de Vargas alvo de interesse seis décadas depois.
Homem de muitas polêmicas, Getúlio Vargas teve sua vida pessoal exposta por diversas vezes. Notícias sobre o seu alcoolismo e o envolvimento com suas supostas amantes eram comuns à época, em especial durante o segundo mandato. Juremir Machado cita dois episódios relevantes envolvendo filhos do ex-presidente. Um deles morreu muito jovem, situação que supostamente fazia Vargas se sentir culpado por não ter lhe dedicado mais tempo e atenção; e uma filha era esquizofrênica e tida como “louca” por não ter recebido diagnóstico de forma precisa.
Sobre Vargas também recaiu a acusação de ter participado, ainda adolescente, do assassinato de um estudante paulista em Ouro Preto, Minas Gerais, durante uma briga em que os irmãos participaram. “Se especulou se ele teria participado. Ao que tudo indica, ele assistiu. Houve um jeitinho bem brasileiro para livrá-lo, mas ficou sempre essa dúvida, essa marca”, diz Juremir. “Alguns biógrafos acusavam Getúlio de ter sido o autor do ato, enquanto outros afirmavam que ele não tinha absolutamente nada a ver com o episódio”, lembra Marcelo Steffens.
Fonte:jornal do Brasil
Para o doutor em História, no entanto, a principal polêmica foi sobre Vargas ter ordenado ou ao menos estar ciente sobre a participação de Gregório Fortunato, membro da sua guarda pessoal, no atentado contra o jornalista e político Carlos Lacerda, em 05 de agosto de 1954. Esse episódio deu armas à oposição contra Getúlio e seu governo, que percebeu ali a oportunidade de interromper o seu mandato. Para Steffens, a ameaça de humilhação para ele e sua família contribuiu para o seu suicídio.
A morte de Getúlio
Getúlio Vargas matou-se com um tiro no peito, por volta das 8h30min de 24 de agosto de 1954, em seu quarto no Palácio do Catete, sede do governo federal na então capital Rio de Janeiro. Embora o suicídio seja costumeiramente considerado um ato de covardia, no caso do ex-presidente, há um entendimento comum de que foi mais uma estratégia detalhadamente planejada - o que é reforçado pelas cartas, Testamento e Despedida, que ele deixou de forma a marcar o adeus do político e do homem Getúlio, respectivamente.
Com a sua morte, Vargas adquiriu ares de figura mítica. “O suicídio dele foi um sacrifico que fez para garantir a continuidade de suas obras”, afirma José Augusto Ribeiro, para quem a ação do ex-presidente foi um gesto heroico que evitou uma guerra civil próxima de ser instalada no País, o que levaria a perda de vidas humanas e de liberdades públicas. Para o escritor, o suicídio de Getúlio também garantiu a eleição do presidente Jucelino Kubitschek, que pôs em prática as partes “menos polêmicas” de seu programa de governo.
Na análise de Juremir Machado, a imprensa foi a principal responsável pelo suicídio de Getúlio. Ele argumenta que os principais jornais do País trabalharam fortemente pela queda do então presidente no golpe militar de 29 de outubro de 1945, em parceria com a União Democrática Nacional (UDN). Quando voltou ao poder, após quatro anos como senador, Vargas novamente enfrentou pressões - mas, desta vez, sucumbiu.
Machado lembra que casos de corrupção no governo eram insistentemente abordados pela mídia, sob a argumentação de que não era possível o presidente não saber que existiam. “Ele ficou encurralado”, afirma. “Não queria ser deposto novamente, e o simples fato de ser chamado a depor seria uma humilhação para ele”, completa.
Cansado e deprimido, Vargas cumpriu com algo que já sinalizava estar disposto a fazer em 3 de outubro de 1930, quando, na primeira nota de seu diário, escreveu que, se os seus planos para o País não dessem certo, pagaria com o preço da própria vida. “Getúlio deu sinais, pelo menos mais três vezes, de que poderia fazer isso. Hoje, se diria que ele tinha depressão. Era um homem isolado, de bom humor, muito afável, mas, ao mesmo tempo, uma ilha. Era muito sujeito às pressões e não se abria com ninguém”, define.
Trecho da Carta-Testamento de Getúlio Vargas
“Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
Trecho da Carta-Despedida de Getúlio Vargas
“Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte. Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia”
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