Depois de uma vida dedicada a filhos e netos, chega o momento de os mais velhos receberem atenção
Salo Buksman, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, diz que a terceira idade é a hora de receber a gratidão das gerações mais novas. “Os idosos são responsáveis por tudo o que os mais jovens têm e são. É preciso atitude de solidariedade e cuidado”.
De acordo com a psicóloga Anita Liberalesso Neri, professora da Unicamp, para os jovens é mais fácil conviver com idosos mais ‘antenados’ e cientes do que acontece no mundo.
Lucia é a ‘companheira de todas as
horas’ dos netos. Ela — que é avó de outros três, só que ainda crianças —
é convidada para programas como cinema, passeio no shopping e até jogos
da Copa no Maracanã. “Esse relacionamento me faz bem. Tenho com eles
uma experiência que não tive com meus filhos, porque estava trabalhando
na época”.
A boa convivência porém, não é tão fácil quando o jovem
se depara com um idoso dependente. Para a lidar com um problema
frequente — o Alzheimer —, a Associação de Parentes e Amigos de Pessoas
com Alzheimer (Apaz) lançou a campanha ‘Conhecer para Conviver’, que vai
percorrer escolas para ensinar dados da doença. Para a presidente da Apaz, Maria Aparecida Guimarães, por não conhecerem a doença, os jovens sentem vergonha dos avós. “Os pais vão trabalhar, e quem convive com os idosos são os jovens. Se entenderem a doença, poderão sinalizar quando algo for mal”. Para receber a Apaz, ligar para 2223-0440 ou 2518-1410 (segundas, terças e quintas).
"É PRECISO TER COMPREENSÃO E PACIÊNCIA"
Conviver bem com idosos é dívida de gratidão, segundo Salo Buksman, da Sociedade Brasileira de Geriatria. O convívio, que nem sempre é fácil para os adolescentes, pode, inclusive, definir o tempo de vida dos mais velhos.
1. Quais são os problemas mais recorrentes entre os idosos?
— Quase metade das pessoas tem um envelhecimento bem sucedido, com saúde física e mental e independência. Associa-se idoso a doença e incapacidade, e isso não é verdade. Mas os problemas mais recorrentes seriam doenças neurodegenerativas, como Alzheimer; depressão; doenças cardiovasculares e ortopédicas.
2. Como o contato entre gerações ajuda?
— Esse contato pode enriquecer as duas partes. O mais jovem escuta fatos do passado que ele desconhecia e, quando dá atenção ao idoso, se sente uma pessoa melhor, vê que é gratificante. Já o idoso, quando transmite conhecimento, se sente prestigiado e apresenta melhora na autoestima. Para mim, o valor desse contato para ambos deveria ser ensinado nas escolas.
3. A atenção e o carinho dos jovens e de outros parentes refletem na saúde?
— Sim. Esse contato costuma provocar uma melhora global da saúde física e mental. O idoso bem cuidado responde melhor a tratamentos de doenças. A atenção familiar melhora também a recuperação e, em alguns casos, interfere até no tempo de vida do idoso.
4. Como o tempo dos jovens com os idosos deve ser aproveitado?
— O ideal é que esse tempo seja gasto não só em conversas, mas também em passeios. Muitas vezes, o jovem é as pernas e os braços do idoso que não tem capacidade de ir a museus e restaurantes sozinho.
5. A convivência é importante, mas muitas vezes o adolescente não tem paciência. Por quê?
— Existe uma dívida de gratidão com os idosos. Acontece que, às vezes, o adolescente é muito egocêntrico e não está preparado para sair de si. Ele tem que ser ensinado a fazer isso, a se doar. Não é fácil ter paciência com o idoso doente, mas é preciso entender o que está acontecendo e ter compaixão.
6. Uma reclamação comum é a de que o idoso tem manias...
— Na verdade, com o envelhecimento, a pessoa perde a capacidade de adaptação e passa a criar rotinas, porque assim se sente seguro. Tudo o que sai dessa rotina deixa o idoso aflito e preocupado. Não são manias. A flexibilidade mental diminui. Os membros dos Rolling Stone são uma exceção.
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