Foto: Adriano Machado/Reuters
Em declaração entregue à Polícia Federal
nesta quinta-feira (4), o ministro da Educação, Abraham Weintraub,
manteve argumentos contra a China presentes em sua postagem no Twitter
que deu origem à investigação. Ele usou falas de Donald Trump contra o
país asiático para reforçar sua defesa de que as insinuações contra a
China são válidas e afirmou que imputar um crime à publicação nas redes
sociais fere a liberdade de expressão.
Weintraub optou por não responder às
perguntas dos investigadores. Ele entregou somente um posicionamento por
escrito, trazendo suas considerações sobre o caso.No documento, ele
sustenta que a participação do Partido Comunista da China na pandemia
não é “mera ilação”. “Trata-se de tema discutido por diversos líderes
mundiais (vide comentário do presidente Donald Trump)”, afirma no
documento. Ele indicou um link para uma fala do presidente dos Estados
Unidos de maio, na qual o líder americano disse que a China tentava
“desesperadamente se desviar da dor e carnificina que se espalhou pelo
mundo” com a pandemia.
Trump chegou a se referir ao novo coronavírus
como “vírus chinês” e recebeu críticas nos Estados Unidos, inclusive,
de o termo ser racista, o que ele refutou.
Como na postagem no Twitter, Weintraub voltou
a afirmar então que a China se beneficiou da pandemia do novo
coronavírus.“Hoje há fortíssimas evidências que o vírus foi criado em
laboratório, que o PCC (Partido Comunista da China) escondeu o início da
pandemia e informou à Organização Mundial da Saúde que não havia
contágio entre humanos e, depois de tudo, vendeu produtos necessários
para o tratamento para todo o mundo”, diz o documento. Ele não elencou
no documento quais evidências são essas.
Segundo ele, a postagem trouxe “elementos de
humor” como forma de se referir ao Partido Comunista chinês e que usou o
“sotaque” do personagem em quadrinhos Cebolinha, pois este “costuma ser
associado à fala de povos orientais em geral”.
O ministro argumenta no documento que sua
postagem no Twitter teve tema “único e exclusivamente geopolítico”. E
ele buscou “quem se beneficia de uma crise para ajudar a indicar um
possível causador, mesmo que indireto”.
A postagem na rede social, feita no dia 4 de
abril, trazia uma ilustração da Turma da Mônica, com referências à
China, como a bandeira do país e um urso panda. O texto publicado pelo
ministro na ocasião dizia que: “Geopolíticamente, quem podeLá saiL
foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o
Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha
paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu o
ministro.Segundo Weintraub, a publicação recebeu “centenas de milhares
de interações positivas e negativas” e que ele não identificou “uma
única que versasse sobre o tema racismo”. Segundo ele, a imputação de um
crime neste caso se deve à interpretação de “determinados grupos
sociais”.
“Não se pode imputar um crime nessas
circunstâncias, sob pena de revogar um princípio e direito maior
constitucional, que é a liberdade de expressão”, diz a manifestação.
De acordo com Weintraub, a publicação feita
no Twitter que resultou na investigação por racismo foi pensada como
forma de abordar “um tema da maior seriedade, sem ser enfadonho, na
dinâmica própria das redes sociais”.
Ele sustentou que usa conta no Twitter para
“manifestar ideias” e se “expressar livremente”. “Algumas manifestações
expressam sentimentos, outras buscam informar, e outras levantam
questões para debate”.
Weintraub afirmou ainda se sentir ofendido
por ser investigado por racismo, já que tem “orgulho de descender de
“judeus, negros, cristãos, índios e uma profusão de etnias”.
A investigação foi iniciada com autorização
do Supremo Tribunal Federal. O ministro Celso de Mello autorizou a
instauração do inquérito, atendendo pedido da Procuradoria-Geral da
República, e deu 90 dias à Polícia Federal para realizar as diligências.
Weintraub pleiteou o direito de escolher o horário e o local do depoimento. Mas o pedido foi negado por Celso de Mello.
CNN BRASIL
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