Comissão Nacional da Biodiversidade (Conabio) como espécie exótica invasora — numa iniciativa que, segundo o governo, visa dar “caráter técnico e preventivo” à conservação ambiental.
O que está em jogo
- A tilápia (Oreochromis niloticus) é uma espécie exótica no Brasil, originária da África/Médio Oriente, mas produzida em larga escala no país para aquicultura.
- Em 2024, a produção nacional atingiu cerca de 662,3 mil toneladas — equivalente a 68% de toda a piscicultura brasileira.
- A Conabio propõe listar essa espécie como “invasora” por seu potencial de fuga para ambientes naturais, competição com espécies nativas, alteração de ecossistemas aquáticos etc.
Críticas e contradições
Enquanto o discurso oficial busca proteger a biodiversidade, a medida gera forte reação no setor produtivo e levanta algumas contradições — as quais merecem destaque:
- Impacto socioeconômico: Produtores e associações argumentam que classificar a tilápia como invasora ameaça milhares de empregos e famílias que dependem da piscicultura, além de gerar insegurança jurídica.
- Confusão de “invasora” vs. “cultivada”: A tilápia já está legalmente autorizada para cultivo no Brasil, com licenciamento via Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O governo afirma que não há proposta para proibir o cultivo — apesar da proposta de listagem.
- Timing e lógica questionáveis: Por que agora, depois de décadas de produção consolidada, a tilápia é apontada como invasora? Alguns veem isso como medida simbólica, com pouco efeito prático, mas com potencial de gerar barreiras comerciais e regulatórias.
- Prioridade ambiental ou política? A inclusão de peixes como a tilápia na lista de invasoras foi comparada no discurso do ministério à de espécies como o javali‑europeu — o que para produtores soa como exagero.
A pitada de crítica
Não se trata de negar que exista problema ambiental – há indícios de que a tilápia possa se dispersar fora de sistemas controlados. O problema é o modo e o momento da iniciativa:
- Parece que se está jogando um peixe gigante dentro de um aquário fino, sem antes saber se ele cabe ou se vai quebrar o vidro.
- Para quem produz tilápia, é como se lhe dissessem: “Você sempre fez parte da festa, mas agora talvez seja o intruso”.
- A iniciativa tem cara de simbolismo mais que de ação concreta: colocar a tilápia “na lista” parece mais um recado do que uma medida factível.
- E o risco: confundir conservação de biodiversidade com ataque à produção nacional — o que pode virar tiro no pé (ou no filé de peixe) da segurança alimentar do país.
Em resumo
A intenção de proteger ambientes aquáticos e espécies nativas é louvável. Mas quando se ataca uma cadeia produtiva consolidada como a da tilápia sem clareza de medidas, sem diálogo suficiente e com potencial de efeito adverso socioeconômico, corre-se o risco de causar mais dano que benefício.
Se a ministra Marina Silva realmente busca avanços ambientais, seria mais produtivo investir em manejo rigoroso, contenção das fugas e apoio à aquicultura sustentável — do que colocar o rótulo de “invasora” e provocar instabilidade para um setor-chave.
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