O médico ortopedista e traumatologista Kid Nélio Souza de Melo, de 35 anos, acusado de estuprar pacientes durante atendimentos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira e em clínicas particulares no Recife,
passou à condição de réu. A Justiça aceitou a denúncia do Ministério
Público de Pernambuco. O médico também teve a prisão preventiva
decretada e deve aguardar julgamento atrás das grades.
O
processo está na 17ª Vara Criminal da Capital. A Central de Inquéritos
do MPPE confirmou que ofereceu a denúncia, mas que a mesma corre sob
sigilo porque “as práticas do médico se enquadram dentre os crimes contra a dignidade sexual”.
De acordo com a denúncia do MPPE, as investigações da Polícia Civil
concluíram que mulheres com idades entre 18 e 39 anos eram abusadas
sexualmente pelo ortopedista. Mais de dez vítimas registraram queixa.
As
mulheres afirmaram à polícia que, durante os atendimentos, o médico
pedia para que elas ficassem nuas – mesmo que, em algumas situações,
elas apresentassem problemas simples nos punhos ou nos pés, por exemplo.
Era nesse momento que os abusos eram praticados. “Elas relatam que ficaram tão mal, que não conseguiram gritar. Estavam travadas”,
afirmou a delegada Ana Elisa Sobreira, no dia da prisão do acusado, há
um mês. Segundo a Polícia Civil, o acusado afirmou em depoimento que
teve relação sexual consentida com duas pacientes. Também negou que
tenha estuprado as outras mulheres que o denunciaram.
A
primeira vítima a procurar a Delegacia de Polícia da Mulher, no bairro
de Santo Amaro, foi uma jovem de 18 anos, que teria sido estuprada no
dia 21 de fevereiro deste ano. No mesmo dia, o médico foi afastado das
funções por determinação da direção da UPA da Imbiribeira. No dia
seguinte, diante da repercussão da denúncia, uma universitária de 32
anos tomou coragem e também procurou a polícia. O mesmo aconteceu com
outras mulheres.
A Justiça
deu dez dias para que o médico apresente a defesa prévia. Depois disso,
deve ser marcada a primeira audiência de instrução e julgamento do
caso. O Ronda JC não conseguiu contato com a defesa do acusado.
PERFIL: Kid Nélio
é médico há nove anos. Ele se formou pela Universidade do Rio Grande do
Norte e especializou-se na área de ortopedia e traumatologia, com
ênfase em cirurgias. Além da UPA da Imbiribeira, ele também trabalhava
em clínicas particulares. O Conselho Regional de Medicina (Cremepe)
abriu sindicância para investigar a conduta do profissional, que pode
perder o direito de exercer a profissão.
O médico
também responde a processos na Justiça por supostos erros médicos. A
informação foi revelada pelo Ronda JC no mês de fevereiro. Um dos casos
ocorreu em 2016. Um policial militar precisou passar por uma cirurgia no
punho direito porque sofreu um acidente de bicicleta ao cair em um
buraco na Avenida Norte, no Recife. O advogado do policial, Carlos
Eduardo Mota, afirmou que houve um erro no procedimento e o paciente
precisou passar por nova cirurgia, desta vez realizada por outro
profissional. Mesmo assim, o PM teria perdido parte dos movimentos do
braço. O processo tramita na 4ª Vara Cível da Capital.
Outro
processo que tem o médico como réu também tramita na 31ª Vara Cível da
Capital. O Tribunal de Justiça de Pernambuco afirmou que esse segundo
processo foi concluído em primeiro grau e que o recurso ainda está sendo
julgado. A assessoria não informou detalhes do caso.
ESTATÍSTICAS:
Entre os anos de 2007 e 2017, a Polícia Civil de Pernambuco investigou
21 médicos suspeitos de crimes de estupro, no exercício da profissão. Do
total de casos, seis foram registrados no Recife. Dos
21 médicos investigados por estupro, três foram considerados como
suspeitos pela polícia. Os outros profissionais foram apontados como
autores do crime. Outro dado que chama a atenção é que, do total de
médicos, quatro foram investigados por estupro de vulnerável (quando as vítimas são menores de 14 anos ou, por qualquer outra causa, eram pessoas que não podiam oferecer resistência).
Somente
no ano passado, três médicos foram denunciados à polícia por abuso
sexual. Um dos casos ocorreu em fevereiro, no município de Calumbi, no Sertão do Estado. Os outros dois foram na Região Metropolitana do Recife: um em Olinda e outro em Jaboatão dos Guararapes.
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