Com menor oportunidade de trabalho, toda a economia do município registra dificuldades
Mauriti. No estado do ceará. A demora na conclusão do processo licitatório que garantirá o retorno das atividades no canteiro de obras da Meta 3N, antigo lote 6 da transposição das águas do Rio São Francisco, neste município, continua gerando transtornos e prejuízos à diversos setores da sociedade local. Os trabalhos foram interrompidos há cerca de dezoito meses. Mais de 1.500 operários foram demitidos gerando déficit na economia do município. O índice de inadimplência cresceu junto às lojas de departamento e eletrodomésticos. Houve redução no número de aluguéis residenciais e comerciais. O setor de alimentos também passou a contabilizar perdas.
Trecho do canal na Meta 3N, antigo lote 6. O cenário é de abandono. Segundo o Ministério da Integração, trabalho será retomado após licitação FOTO: ROBERTO CRISPIM
"Desde que a obra foi paralisada, todo o comércio do município vem sofrendo com os prejuízos", afirma o comerciante Sinval Argemiro. Proprietário de um mercadinho localizado no Centro da cidade, ele diz que a queda das vendas no estabelecimento foi acentuada após a paralisação das obras. "A economia praticamente estagnou. Se é que não decresceu", pondera.
O comerciante avalia que as demissões resultantes da paralisação das obras também ocasionaram o fechamento de alguns estabelecimentos. "As perdas foram superiores a 40%. Teve gente que havia iniciado uma atividade comercial por causa da transposição. Com a paralisação, vieram as inadimplências. Muita gente não aguentou os prejuízos e acabou fechando", contou.
O índice de desemprego cresceu consideravelmente. A maioria da mão-de-obra existente no município permanece ociosa devido à falta de oferta de vagas no mercado de trabalho. Na cidade não há empresas de grande porte, tampouco indústrias. A situação acabou gerando o êxodo de muitos trabalhadores que, em busca de emprego e oportunidades, migraram para outras regiões. O setor agropecuário também aponta para possíveis prejuízos devido ao atraso nas obras. "Se já tivessem concluído esse canal, a gente estava usando a água para irrigar as plantações. Em vez disso, por causa da seca, os bichos estão morrendo e o legume quase não nasceu", lamenta o agricultor Francisco Genivaldo dos Santos.
Dados da gestão municipal garantem uma perda superior a 70% da safra agrícola deste ano. No ano passado os prejuízos no setor foram próximos aos 90%.
"Com esta paralisação nós estamos atravessando um momento crítico onde as famílias estão vivendo praticamente do Bolsa Família, Bolsa Estiagem e Garantia Safra, programas sociais do Governo Federal", observa a secretária Aparecida Bernardo, que responde pela área do Desenvolvimento Econômico do município. O número de agricultores beneficiados pelo programa Garantia Safra no município é de 4.111pessoas. O valor pago é de R$ 80 em cada uma das sete parcelas distribuídas pelo programa. Já o programa Bolsa Família beneficia mais de 8,5 mil famílias. O volume de recursos pagos injetados no município é de R$ 1,4 milhão por mês.
Embora não saiba precisar o percentual de perda na economia local, devido à interrupção das obras, Aparecida Bernardo diz que os prejuízos são facilmente detectados se comparada à atual realidade do município à época em que os trabalhos vinham sendo realizados no canteiro da transposição. "O desenvolvimento econômico, a circulação dos recursos, inclusive o comércio, era totalmente diferente com o de hoje", conclui.
Na área onde deveriam estar residindo os proprietários de áreas desapropriadas para a construção do canal, na região de Descanso não há atividades. As casas que seriam ocupadas por mais de 80 famílias ainda não estão prontas. A construção das residências já dura três anos. "Está parado. Ainda falta fazer toda a parte elétrica das casas e alguns outros serviços", disse um dos vigias, que pediu para não ser identificado com medo de perder o emprego.
O Ministério da Integração informou que o projeto de integração do Rio São Francisco também possui outro trecho de obra que passa pelo município de Mauriti. Conforme destacou, "está em construção no município à entrada do maior túnel da América Latina para transporte de água, o Cuncas I". Nesta fase, mais de 600 pessoas estariam atuando nas frentes de serviços entre o Ceará e a Paraíba
A pasta também comunicou que as atividades do antigo lote 6 estão suspensas em razão da paralisação unilateral das empresas responsáveis pelo lote. Os serviços que estão suspensos serão retomados com a conclusão do processo licitatório da Meta 3N, que já está em fase final. O Ministério da Integração Nacional prevê a contratação deste trecho (Meta 3N) nos próximos dias.
Conforme o Ministério, com previsão prevista para 2015, as obras do projeto estão em andamento e empregam mais de 6,3 mil trabalhadores. Quatro trechos de obra funcionam 24 horas por dia em São José de Piranhas (PE), Salgueiro (PE), Cabrobó (PE) e Jati (CE).
Também destaca que neste ano, o ritmo da obra voltou a ser acelerado. Sendo mais de 2,3 mil novos postos de trabalho abertos neste ano. As novas contrações são fruto das ordens de serviço emitidas pela pasta nos últimos meses. Ao todo, foram assinadas 11 ordens de serviço para o projeto, que tem 1,8 mil máquinas em funcionamento.
ROBERTO CRISPIMCOLABORADOR
Nenhum comentário:
Postar um comentário